terça-feira, 31 de maio de 2011

Milênios separam começo e fim (Apocaliptica)


Tranquem as portas
e fechem as cortinas,
Por três dias a escuridão se fará infinita.
A imensidão do caos entre as vozes santas
cairão sobre nós.
Não há tempo que desfaça
o mal nascente do chão,
Apenas uma agonia incessante aqui dentro,
Enquanto os que se prendem ao impuro
(todos os pecados escondidos  no fruto)
serão levados por seus próprios pesares.
Não olhe para fora!
Sodoma e Gomora caem novamente,
a nova Babilônia construída em ruínas 
desfaleceu em nome da fé.
Pequenos são nossos olhos 
por não acreditar no cessar dos gritos profanos,
no fim dos falsos deuses.
Depois de estremecer o pilar do egoísmo,
consumido nesse altar frígido,
Uma nova aurora se levanta 
em plena Glória!
(e os passáros entoarão o seu canto).

sexta-feira, 27 de maio de 2011



O que é ser um poeta? A poesia é um dom ou um bem adquirido?
Todos nós já nos deparamos com tais questões, o mundo evolui mas algumas perguntas parecem tão impertinentes quanto os ditados. Na verdade, a poesia nos tempos de hoje acabaram se tornando artigo de pouco valor emocional e acima de tudo cultural. Mas pra que julgar os ditos poetas incompreendidos,  será que devemos todos ter a mesma vocação para Manuel Bandeira, Olavo Bilac, será que todos temos a mesma sensibilidade que teve Cora Coralina ou nossa saudosíssima e paranaense Helena Kolody, a resposta é única, não, não temos.
  Quantas vezes já ouvi em varias vozes diferentes a mesma opinião, "os jovens não sabem escrever poesia, o que escrevem são bobagens parafraseadas de músicas sentimentais", isso lhe parece familiar, ou até mesmo, "como todo mundo é poeta agora, não tem que ser culto para saber escrever", ora cultura é sim um importante instrumento para tudo o que se vai criar, não só  na parte literária mais em qualquer forma de expressão. Porque esse preconceito? De onde vêm esses absurdos psicanalíticos? bom para isso não tenho resposta, mas acredito que poesia é a expressão diferente de cada um ver algo que é natural a todos, existem várias maneiras de se falar sobre o mesmo tema assim como a vários jeitos de se perceber os sentimentos, por exemplo o amor, alvo de muitos poetas, desejada por todos mas alcançadas por poucos, esse não é o tema mais usado até hoje para se poetizar?, e podemos dizer que se pegarmos a maioria das poesias mais famosas elas serão parecidas ou até mesmo idênticas entre elas? não, porque cada um sente de um jeito, como cada pessoa pode se identificar com elas. Então a poesia não tem medição entre  "melhores" e"piores", o que vai entra em ação é a maneira de que cada um irá saborear a poesia, de que jeito cada ser olha para um determinado assunto. Como diz o ditado "gosto é gosto, cada um tem o seu", pode ser clichê,mas a verdade é um clichê e não deixa de ser verdade, "a beleza está nos olhos de quem vê", então por que não aplicar isso em nossas leituras, sejam mais pacíficos e menos críticos, afinal leitura é para ser uma hora de redenção da realidade, uma válvula de escape do cotidiano,uma hora que reservamos aos sonhos e as fantasias, sem obrigações, sem leis a seguir...
  Para terminar, há um a poesia de Florbela Espanca, poetisa portuguesa, que consegue capturar toda a essência dos poetas, e que exprimem além de rimas perfeitas, o verdadeiro sentido da existência de um poeta.

Ser Poeta
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!


(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)

Ensaio


O verão ainda está distante
Mas os postes exibem seus
Sorrisos de escárnio
Contra o povo

O mês de finados e de todos 
Os santos está longe
Mas os muros já estão
Cobertos de mortalhas

O circo ainda não chegou
Mas os palhaços
Já estão armados..

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sonho passageiro...


Queria eu ser uma estátua
fria e bela,
Imune ao que acontece em meu redor

Em meu rosto haveria apenas
um sorriso inocente esculpido,
Sem as chagas de uma vida passageira

O que escorreria dos meus olhos
não seria um pranto amargo,
E sim o orvalho gélido do amanhecer

E a sujeira do tempo
que transforma a alma em corrupção,
seria lavada,e tão puramente
Voltaria a ser o que era

Poderia ser eu a obra perfeita de um criador
exposta para ser vislumbrada ou
guardar o repouso de um guerreiro caído

Mas mesmo com toda a sua grandeza,
com toda a sua beleza
e seu coração petrificado,
ainda sim seria apenas uma estátua... 

Dentro do Silêncio


Conforme a noite passa
em silêncio
O estupro se faz H-imenso
O míssil se pinta de paz
E o grito (o)primido se faz 
em nada

Enquanto a nossa voz
-Deitada eternamente-
Dentro do hino sente
Culpada.

terça-feira, 17 de maio de 2011

A Psicanálise do Poema

Vem, deita aqui nesta folha
 E te transforma em palavras.
Faz teu este poema
Confia-me teu problema,
Tua neurose reprimida
-a essência denegrida.
Não sonhes sozinho.
Sonha comigo.
Derrame aqui - só entre nós dois -
O seu inconsciente,
Seu Ente iminente,
Sou seu amigo,
Seu id,
Sua libído.
Venha e descubra
O reverso do divã
No divã do verso.

Q-brado

No chão o mito em pedaços
Cacos de vidros ainda vivos
Imitando a sangue

O copo derramado-frações de
Vidros - a imagem do perigo
Onde antes residia a segurança

Memória quebrada
Sob o olhar embriagado
Que ri e chora uma perda

Presente de casamento
Presente sob os pés molhados 
A imagem de alguém que 

Desejou felicidades retrata
Sobre a roupa manchada/
Da mão já sem forças-
Libertou-se o brado bêbado
Da realidade.

Se eu morresse...


Se eu morresse
Em Canto
Entre parêntesis
Ad(eu)s
Me sepultaria
Para o reino da palavra
Somente uma cacofonia
Suave ida me daria
Se eu morresse a mãe hã
Morreria.

Um último pedido...


E na cólera da noite
A escuridão tomou meu coração
Num mundo onde o medo nos aprisiona
Minha voz livremente alcança as estrelas.
Meus pensamentos ecoam entre essas paredes
Afogada nos gritos de minha alma,
Sua falta custa a desaparecer
E não há nada para me manter aqui.
Você se mantêm tão longe
tão fora do alcance,
Sua imagem escorrega pelos dedos
Venha e leva-me junto a você
Eu nunca direi adeus,
Perdoe-me por fugir da razão,
Cura meus delírios de solidão
Quando deitar meus sonhos em seus braços.
Eu contínuo respirando o fim
E as lembranças  escorrem pelos lábios,
Os dias se arrastam pela chuva,
Como o inverno congelando os olhos amorosos.
E já não me resta sanidade alguma, 
Será que é uma doença o que sinto,
Por desejar que seu amor permaneça em mim...




Distúrbia (a indagação entre o amor e a morte)

Estou presa a vida...
...como meu amor em suas mãos.
Há descanso para o eterno,
Haverá fuga para minha alma,
ALMA!
Já se esvaiu de mim há tempos,
Então o que me retém a beira do precipício.
Esse silêncio gritante ao meu redor,
perseguindo minhas mórbidas horas
Punindo as noites de pecados ou
os dias de insanidade.
Porquê?
Porque ânseio saborear a ferrugem de uma lâmina nos pulsos?
Já não posso me perdoar,
Por desejar o sangue que alimenta seu coração,
Pois ele é o vinho que desperta em meus lábios um pouco de vida.
Clamo a morte para preparar meu túmulo,
Como uma mãe prepara o leito
para sua filha sonhar,
Mas desse sonho não mais voltarei!
Pois meus olhos fecharam para você 
E abriram para o paraíso.

domingo, 15 de maio de 2011

Requiem...

Minha alma rasteja
Entre folhas secas e destruição,
Procurando restos de você
Esquecidos juntos a mim.

Ah, aquele dia cheio de lágrimas
São nuvens prevendo a minha decadência,
A maldição dos meus antepassados
Recaiu sobre meus dias.

Esse vazio que me completa
Ao sabor das quimeras que já disse,
Me espiam atrás da janela
Como um corvo anunciando um nunca mais.

Voe,voe para longe
E leve minhas recordações com você
Nelas habita minha fraqueza,
As cinzas sobre você
São pedaços que não sobrevivem em mim.

Somente diga que se lembra
Lembra da nossa promessa
De sermos eternos um para o outro,
Eu me lembro...

O que está enterrado para você
Ressuscita em mim a cada manhã,
a cada noite adormecida.

Rosas se abrem em carne viva
Sangram com o pulsar de minhas mãos
E nelas me reflito,
Despedaçadas ao chão.

Somente deixe por uma última vez
um beijo de boa noite
Pousar em seu rosto,
E antes que tenha adormecido
Já estará sozinho
Eu me retiro com a escuridão...

Comentários: "requiem" é uma palavra em latim que significa "missa aos mortos",há vários requiens conhecidos, uma delas é o Requiem de Wolfgang Amadeus Mozart...


Por detrás dos óculos

Tanto o morto
Quanto o vivificado,
Enfim,tudo,
Tudo está vidrificado.
Mas se estende a mão
Tudo está tangível,
Sinto o calor das coisas
Sinto os sentimentos
Cósmicos
E a barreirade vidro
É apenas visão
Que a tudo aumenta
E ilumina.
O mundo agora, é uma
Enorme vitrine.

sábado, 14 de maio de 2011

Itinerário das Chuvas


Ver além da chuva
Ver as ondas de um mar
Que na chuva
Se procura
E nessa visão
Ilimitada
Descobrir nas águas
A Voz
Em fragmentos:
Partes desatinadas do mar
É o que cai
Nas chuvas 
Partes desatinadas sou eu 
Do mar 
Que em mim 
Procuro...

domingo, 8 de maio de 2011

Foto



O que me espanta
Não o sorriso plastificado
Ou o brilho do flash
Morto nos olhos

É o espião 
Que de dentro de mim
Na foto
Me espelha

É a nudez das cores
Que me define e me definha
Na entranha
Da foto

É a violência do flash
Que em nervos de segundos
Guarda um instante
Que não mais será

Isto que me espanta
Espanca
E me faz carência
Ausência.